Por Ricardo Shultz Martins
É bem possível que você não saiba o que é a crioterapia, mas, muito provavelmente, você já viu ou ouviu algum atleta que utilizou dessa estratégia de recuperação muscular - a famosa banheira de gelo. Ah, e você se engana se pensar que é uma estratégia de recuperação recente - Hipócrates já utilizava da crioterapia no tratamento de edemas no século III A.C. Mas porque a crioterapia é utilizada?
Crioterapia pode acelerar a recuperação muscular pós-exercício físico.
Por definição, a crioterapia é uma estratégia de recuperação muscular através da redução da temperatura tecidual. Durante o exercício físico, o músculo é lesado através do estresse mecânico, estresse metabólico, estresse térmico e pelo estresse oxidativo. Dessa maneira, o dano a fibra muscular causado pelo exercício pode ir além do período de treinamento - ou seja, devido à temperatura, acúmulo de metabólitos, espécies reativas o dano muscular pode continuar acontecendo mesmo após o término da atividade física. Assim, uma vez que há o dano muscular, o corpo inicia um processo inflamatório para dar início a regeneração muscular e por isso você tem aquela dor que começa no dia após o treino e dura entre 24-72 horas - a dor muscular de início tardio (DMIT). Tá, mas e a crioterapia? Ela é responsável por diminuir a temperatura do músculo e, com isso, há uma diminuição da taxa metabólica muscular, redução do fluxo sanguíneo e uma limitação da resposta inflamatória. Dessa maneira, a crioterapia tende a diminuir as consequências como, por exemplo, a redução da força muscular, dor e limitação da amplitude de movimento causado pela inflamação e DMIT; e, por fim, o atleta consegue acelerar a recuperação muscular melhorando as sessões de treinos subsequentes.
E como funciona a crioterapia? A modalidade mas acessível de crioterapia é através da imersão em água fria, ou seja, a famosa banheira de gelo. Nessa modalidade, o atleta geralmente fica submerso até o pescoço em uma banheira com a água em uma temperatura abaixo dos 15ºC por 10-15 minutos. Isso é necessário para que haja uma redução na temperatura muscular. Além disso, como a resposta inflamatória começa já ao terminar o exercício, quanto antes a crioterapia for realizada melhor - porém seus benefícios ocorrem até 24 horas após o exercício.
E funciona para todo mundo? Essa é a pergunta que vale um milhão de reais. Do ponto de vista fisiológico, sim. Porém, a efetividade da crioterapia é baseada na capacidade da água gelada em reduzir a temperatura tecidual - ou seja, a capacidade do banho de gelo em reduzir a temperatura do músculo. Por isso, há muitas variáveis em jogo. Quer um exemplo? um atleta mais pesado pode ter dificuldades em reduzir a temperatura muscular devido ao tecido adiposo - uma vez que, a gordura é um isolante térmico. Isso também é valido para atletas com muita massa muscular - quanto mais músculo, maior será a dificuldade em diminuir a temperatura.
Atletas com muita massa muscular podem ter uma eficácia reduzida da crioterapia ou necessitar de adaptações para obter uma resposta positiva da crioterapia.
Vale lembrar que, mesmo sendo uma estratégia simples, a crioterapia pode causar efeitos adversos e até queimaduras pelo frio. Por isso, sempre procure um profissional qualificado para individualizar a sua estratégia de recuperação.
Ricardo Schultz Martins
Mestre em Fisiologia do Exercício pela Brock University.
Bacharel em Fisiologia do Exercício pela Acadia University.
Especialista em Suplementação Esportiva pela Dietitians of Canada.
Acadêmico de Medicina pela Universidade do Planalto Catarinense.
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