Bem-estar integral vai além dos aspectos físicos
- Letícia Gonçalves
- 17 de fev.
- 4 min de leitura
Como é gratificante participar desse espaço e compartilhar reflexões que aprendo estudando medicina do estilo de vida e psicologia positiva. Convido nossos leitores a descobrirem como a ciência tem a capacidade de nos elevar para criação de uma vida apreciativa construindo saúde de forma concreta e autoral.

As virtudes e forças são a expressão repetida de qualidades humanas consideradas boas e desejáveis para uma boa vida. O bom caráter é o que procuramos desenvolver em nós e identificar nos outros.
O artigo "Shared Virtue: The Convergence of Valued Human Strengths Across Culture and History" explora a existência de virtudes e qualidades humanas que se mostram universais, sendo valorizadas em diversas culturas e períodos históricos. O estudo evidencia que, independentemente das diferenças sócio-históricas, características como integridade, empatia, coragem e honestidade emergem como fundamentos compartilhados para a construção do caráter e para a promoção do bem-estar coletivo.
Nas forças de caráter, a virtude da Transcendência é a virtude da conexão com o Universo, com objetivos maiores que individuais e dirigida para a busca de um sentido profundo.
As suas forças são a gratidão, espiritualidade, humor, esperança e apreciação da beleza.
A espiritualidade é um tema importante em saúde apesar de ser muito negligenciado na prática clínica convencional.
Os termos espiritualidade e religiosidade são usados na literatura ora como termos intercambiáveis ora como distintos.
A espiritualidade seria a qualidade humana que torna possível a crença em “algo” transcendente ou um traço de personalidade independente de um conjunto de crenças e rituais que caracterizaria a religiosidade.
Atualmente a tendência é encontrar na literatura os dois termos espiritualidade/religiosidade (E/R) como um só: separados em dois componentes que seriam a E/R intrínseca (a vivência interior) e a E/R extrínseca (os rituais e práticas externas).
Estas dimensões podem ser avaliadas através da escala Durel que possui versão validade em português.

A maior parte da população mundial tem alguma crença religiosa .
Por isso os profissionais da saúde devem considerar essa força e a vivência espiritual de seus pacientes como um fator importante de uma prática centrada na pessoa.
A crença religiosa interfere na forma de interpretar e lidar com os problemas de saúde, levando a diferentes escolhas de tratamento. A E/R é um mecanismo de enfrentamento de situações de estresse importante.
Vários estudos têm demonstrado que a espiritualidade influencia a saúde física, mental e a qualidade de vida.
No contexto da nossa saúde da classe médica, ela assume um papel relevante ao oferecer recursos internos para lidar com as demandas emocionais e os altos níveis de estresse inerentes à prática médica. Esse aspecto pode contribuir para o equilíbrio pessoal e profissional, auxiliando na prevenção do burnout e na promoção do bem-estar integral.
Estudos apontam que a prática de atividades espirituais, como a meditação, a oração e a participação em comunidades de fé, podem reduzir sintomas de ansiedade e depressão, além de melhorar a resiliência e a capacidade de enfrentamento diante de situações adversas.
A classe médica frequentemente vivencia sobrecarga emocional e desafios éticos, o fortalecimento da espiritualidade pode representar um suporte valioso para a tomada de decisões e para a humanização do cuidado que oferecemos aos pacientes.
Agora, pensando na nossa prática clinica ,obviamente não é recomendado que o profissional da saúde sugira a adesão a nenhuma prática particular de religiosidade a seu paciente.
A principal ação está na tomada da “história de vida espiritual” em que busca entender junto a seu paciente o papel desta força em sua vida, avaliando se existem necessidades espirituais não satisfeitas.
Assim mobiliza-se o interesse do paciente para o tema e pode trabalhar criando um plano em conjunto de satisfação desta necessidade de acordo com seus desejos e crenças.
Sendo assim destaco hoje a importância da espiritualidade não só para o cuidado dos nossos pacientes mas como componente positivo do nosso autocuidado e resiliência profissional para nossa reflexão e discussão.
Ainda aproveito este espaço para destacar ao nosso leitor que Dr. Alexander Moreira-Almeida diretor do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor titular de Psiquiatria da UFJF : com mais de 170 publicações, seus trabalhos abordam o entendimento das experiências espirituais contribuindo para posicionar o Brasil entre os cinco países que mais produzem conhecimento nessa área.
Dr. Alexander Moreira-Almeida acaba de ser anunciado como o vencedor do Prêmio Oskar Pfister 2025 – o principal reconhecimento mundial na interface entre a saúde mental e espiritualidade.

Letícia Gonçalves é membra da diretoria científica do Movimento Médicos Atletas .
Médica de família e comunidade (RQE 51460) com formação em Psicologia Positiva e Medicina do Estilo de Vida. Além de embaixadora dos Médicos Poetas.
É coaching de saúde e especialista em ajudar pessoas a encontrar seu florescimento em saúde, conquistando qualidade de vida, longevidade e uma vida plena.

Referências:
Koenig HG. Religion, spirituality, and health: The research and clinical implications. ISRN Psychiatry. 2012;2012:278730.
Puchalski CM, Vitillo R, Hull SK, Reller N. Improving the Spiritual Dimension of Whole Person Care: Reaching National and International Consensus. J Palliat Med. 2014;17(6):642-56.
Ano GG, Vasconcelles EB. Religious coping and psychological adjustment to stress: a meta-analysis. J Clin Psychol. 2005;61(4):461-73.
Moreira-Almeida, A. - Espiritualidade e saúde: passado e futuro de uma relação controversa e desafiadora. Rev Psiq Clinica 34 (supl.1): 3-4,2007.
Moreira-Almeida, A.; Lotufo-Neto, F.; Koenig, H.G. - Religiousness and mental health: a review. Rev Bras Psiquiatr 28(3): 242-250, 2006.
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